Cinema
QUERES SER JOHN MALKOVICH? (Estados Unidos da América)
Realização: Spike Jonze
CINEMATECA PORTUGUESA - MUSEU DO CINEMA
Sala Luís de Pina
7 de Maio às 18h30 (seg)
Título original: Being John Malkovich Realização: Spike Jonze Com: Cameron Diaz, John Cusack, John Malkovich, Catherine Keener Escrito por: Charlie Kaufmann Música: Carter Burwell Montagem: Eric Zumbrunnen Diretor de fotografia: Lance Acord Idioma: Inglês, com legendagem em português Público-Alvo: +16 Ano de estreia: 1999 Duração: 112 min
Marioneta de Maxine: “Diz-me, Craig, porque adoras marionetas?”
Marioneta de Craig: “Sabes, Maxine, não tenho bem a certeza. Talvez seja a ideia de me transformar noutra pessoa durante um bocado. Estar noutra pele, pensar de forma diferente, mexer-me de forma diferente, sentir de forma diferente."
Queres ser John Malkovich? recebeu três 3 nomeações para os Óscares da Academia em 2000, Melhor Realizador, Melhor Argumento Original e Melhor Atriz Secundária e faz parte da lista dos filmes mais interessantes com marionetas. O reconhecido marionetista Phillip Huber é o responsável pela excelente manipulação.
Craig Schwartz (John Cusack) anda pelas ruas da amargura. Nova Iorque não está preparada para o seu talento como marionetista. O casamento com Lotte (Cameron Diaz), uma empregada de uma loja de animais de estimação que traz literalmente o trabalho para casa, também não anda bem. Sem grandes expectativas na vida, Craig aceita um emprego no escritório duma pequena empresa em Manhattan, onde se apaixona pela sua colega Maxine (Catherine Keener). No sétimo andar e meio do escritório onde trabalha, Craig descobre uma porta escondida com uma passagem que dá acesso direto à mente do ator John Malkovich. Ele é John Malkovich... E isto é só o princípio. Alguma vez quiseste ser outra pessoa? Agora é possível.

BIO
Spike Jonze é o versátil realizador que está por trás dos aclamados filmes Queres ser John Malkovich?, Inadaptado, O Sítio das Coisas Selvagens e Her – Uma História de Amor. Os seus filmes caraterizam-se por reflexões existencialistas e discussões sobre o mundo contemporâneo e os seus conflitos estendendo-se até ao futuro. Ator, realizador e produtor, foi nomeado para o Oscar de Melhor Realizador por Queres ser John Malkovich?, e acabará por receber o Oscar de Melhor Argumento Original por Her – Uma História de Amor. Diretor criativo da Vice, Spike Jonze iniciou a sua carreira como fotógrafo, no final dos anos 80, na revista de desportos radicais Freestylin, o que acabou por o levar à produção e realização de curtas-metragens e vídeos musicais, com vários prémios. Um portfólio que inclui nomes como os Sonic Youth, Daft Punk, Björk, Beastie Boys ou os Arcade Fire.

“Primeira (e fascinada) impressão: estamos perante um filme que se organiza como um programa de computador. Ou seja: entra-se na cabeça e sai-se da cabeça de John Malkovich como quem percorre um link que aproximaria o mundo tal como o conhecemos (ou julgamos conhecer) de um universo outro, gerido pelas regras de contiguidade da informática.
É, não há qualquer dúvida, uma experiência extrema - extremista, à sua maneira - sobre novas possibilidades de inventar e contar histórias. O mínimo que se pode dizer, é que é também uma fabulosa iniciação a outros modos de ser espectador.
Talvez seja interessante insistir no facto de Spike Jonze ser um cineasta que vem do mundo dos telediscos (foi ele que fez, por exemplo, o magnífico It’s Oh So Quiet, de Björk). Digamos que ele possui, dos telediscos, esse gosto pela colagem, não apenas de imagens muito diferentes, mas também de mundos estranhos entre si. Nessa medida, apetece dizer que Queres Ser John Malkovich? é um filme sobre a reconversão de todas as fronteiras - tudo se passa como se viajássemos entre os dados mais banais do quotidiano e os segredos mais íntimos de uma personalidade: e, entre uma e outra coisa, tudo é possível. Este é mesmo um cinema que podia ter como subtítulo: Tudo é possível."
- João Lopes
“É o sétimo andar e meio que dá acesso à cabeça de John Malkovich. Não o sétimo nem o oitavo, é o 7 e 1/2. A notícia espalha-se, e a fila dos que querem experimentar outra identidade - têm direito a 15 minutos - enche-se de rostos deprimidos. Dir-se-ia a 'sopa dos pobres?. É um retrato de depressão, porque os corpos têm de se dobrar pelos joelhos e nem mesmo assim as cabeças podem estar levantadas - é que o tecto é baixo.
Quando John Malkovich descobre o complot dos seus parasitas e dá de caras, aterrorizado, com uma fila de pessoas amontoadas num corredor de um edifício de Manhattan, a sequência é de pesadelo, o horror é kafkiano. Além do mais, John Malkovich, ele próprio, não é bem ele próprio. Sim, é ele. (...) Ou seja, ele é e também não é. E o piso, o tal que está a meio entre o sétimo e o oitavo, é um limbo. Resultado: o espectador, e não apenas Malkovich, começa a sentir que alguém está a querer ocupar a sua cabeça.
(...) Todos querem ser o que não conseguiram ser, e ninguém vai deixar de infernizar a vida alheia.
A culpa última, essa, é do realizador, Spike Jonze, que contraria todas as possibilidades de ‘fantástico’ que está no argumento de Charlie Kaufman (este diz que não precisou de fumar nada para o escrever, o seu cérebro é que se encarregou de fabricar todas as substâncias duvidosas que foram necessárias)...
(...) Para regressar a Spike Jonze: atravessa o seu filme (como atravessa os seus videoclips), apesar dos malabarismos de argumento e dos prodígios da técnica (isto, nos vídeos), um apego, irónico e inevitavelmente trágico, ao que no homem permanece depois de todas as euforias, depois de todos os ‘pós qualquer coisa...’ (do estilo, ‘depois da Internet’). Ou seja, a solidão (...)."
- Vasco Câmara
